Startupeiros: eles empreendem em negócios de tecnologia da nova economia em BH

Por Amelia sperb

Quem olha a cena de startups em Minas Gerais e vê uma comunidade pujante de startups maduras e referência no Brasil e no exterior, talvez não imagine que tudo começou com alguns poucos empreendedores se encontrando por acaso nos cafés e bares do bairro São Pedro, em Belo Horizonte. A história dessa primeira “geração de ouro” que posicionou Minas no cenário nacional foi contada durante o 1º Minas Summit, um dos maiores encontros de inovação corporativa do estado realizado pela FCJ Venture Builder e o Órbi Conecta, no dia 30 de junho, no Minascentro (BH).

Representantes dessa primeira geração de empreendedores do chamado San Pedro Valley (SPV) se encontraram ali: o fundador da Lean VC, Yuri Gitahi; o fundador da Tracksale, Tomás Duarte e Victor Salles, que hoje é Head de Inteligência Artificial do Ifood, e foi um dos fundadores na Hekima.

“O nome San Pedro Valley surgiu de uma brincadeira do Edmar da Rock Content e do Mateus da Hotmart, que sempre se encontravam em uma padaria no bairro São Pedro. Era nesse bairro que ficavam as empresas deles, que na época ainda eram muito pequenas e funcionavam em salas divididas. Eles brincaram que o bairro São Pedro estava tão conectado como o Vale do Silício porque você podia encontrar os CEOs pelas ruas. Muita coisa grande começa com uma brincadeira e o San Pedro Valley é um exemplo disso”, contou Victor.

Tomás Duarte lembrou que os primeiros encontros entre os empreendedores dessa geração de ouro foram acontecendo de forma espontânea, nos eventos de tecnologia da cidade. Num desses encontros, inclusive, Tomás e outros empreendedores conversaram sobre a formalização do nome da comunidade e, de lá, saiu o primeiro site do San Pedro Valley.

Mais tarde esses próprios empreendedores começaram a mobilizar novos encontros com oportunidades de conexão e pitchs para as startups nascentes. “Experimentamos uma velha guarda de empreendedores de muita qualidade, então a gente aprendia muito próximo dos melhores. E a ideia é essa: pra crescer tem que ser junto e formar mini comunidades que fomentam essa troca”, afirmou Tomás.

Yuri Gitahi lembra que as primeiras coberturas na imprensa nacional e internacional sobre o polo de startups também ajudaram a consolidar o nome da comunidade, que logo ficou reconhecida como referência no tema de inovação. “A organização de poucas pessoas conhecidas virou um movimento. Isso foi resultado da união, articulação e integração desses primeiros empreendedores”, disse.

Movimento depende de todos

Para Yuri, essa articulação tão forte no passado acabou perdendo força e, hoje, depende de alguns “heróis da mobilização” que estão não apenas no bairro São Pedro, mas em diferentes cidades de Minas Gerais. Ele provocou os colegas da mesa sobre essa necessidade de retomar a força do movimento e perguntou o que poderia ajudar os polos de startups a se tornarem ainda mais relevantes.

Em resposta, Tomás reforçou a importância de atração de fundos de venture capital para Minas Gerais e a manutenção de eventos, como o próprio Minas Summit. “São muito relevantes para a conexão, mas ainda faltam iniciativas”, disse.

Já Victor destacou que essas mudanças na articulação são naturais e têm a ver com o crescimento do polo, que agrega mais empreendedores e precisa encontrar novos formatos para manter a conexão entre os atores. “Nesse sentido eu destaco o papel do Órbi que nasceu como um espaço para conectar essas pontas entre startups e outros agentes dessa cadeia. O Órbi tem vários eventos como o Portas Abertas, em que todos podem ir e se conectar”, afirmou.

Ele também lembrou que o movimento precisa do apoio de todos para continuar fortalecido. “Muita gente acha que o ecossistema vai se mover através da primeira geração de empreendedores eternamente, mas não. A comunidade está aí, se você tiver disposição e tempo, faça acontecer. O que nos conectou no passado não é o que vai continuar nos conectando no futuro, o mundo muda”, frisou.

O poder da comunidade: histórias de quem se conectou e cresceu

O fundador da Melhor Plano, Pedro Israel, lembra que quando começou a empreender com a primeira versão de um comparador de ofertas de serviços de telecom, precisou entender de SEO, uma vez que o negócio dependia de fisgar os usuários por meio de palavras-chaves. “Foi o Diego da Rock Content que basicamente desenhou a estratégia de SEO pra gente começar. Usamos muito dos empreendedores mais maduros para crescer e fico imaginando o quão difícil seria aprender por conta própria”, contou.

Mais tarde, quando a Melhor Plano cresceu e prosperou, o próprio Pedro passou a oferecer ajuda e mentoria a outros empreendedores que estavam começando. “É papel do empreendedor passar conhecimento para frente, assim como recebeu. Se eu puder dar uma dica pra quem está empreendendo é: pega um grupo de 5 empreendedores e se encontrem com alguma frequência, sem programação, só pra tomar uma cerveja e conversar. Quando você está num grupo com pessoas num caminho parecido, consegue ter uma conversa mais aberta e achar soluções em conjunto”, sugeriu.

A diretora de recursos humanos da Sólides, Távira Magalhães, também destacou a relevância de se estar conectado. “Na comunidade você encontra sustento, sua ideia fica melhor. Não é concorrência, mas parceiros se ajudando, pessoas que depois viram cliente ou fornecedor”, disse.

Conexão que certamente foi importante para que a startup encontrasse seu caminho nos últimos anos. Criada em 2010 com a proposta do Profile, produto que faz mapeamento comportamental, a empresa pivotou em 2013 e, hoje, oferece serviços completos de inteligência em RH, é uma das maiores do segmento, tem cerca de 25 mil clientes e mais de 700 colaboradores.

Um dos fundadores da startup Psicologia Viva, Fabiano Carrijo também comemora os resultados de se apoiar em uma comunidade pulsante de empreendedores de inovação, como o San Pedro Valley. Para ele, a troca de experiências ajuda a empresa a “errar mais rápido”, a partir dos aprendizados de quem já trilhou caminhos parecidos. Considerada uma startup da segunda geração de empreendedores de Belo Horizonte, a Psicologia Viva cresceu mais de seis vezes na pandemia e atende hoje 23 milhões de pacientes.

“Escutamos muito os ‘cabelos brancos’, pessoas que passaram por derrotas e sucessos e aprendemos com o que já tinham feito e estava funcionando. Precisamos fazer conexões, tomar mais cafezinhos com as pessoas. Quantos cafés você já tomou essa semana? Tem que ser pelo menos uns 5 cafés estratégicos por semana”, disse.

Pedro Menezes, conselheiro da startup Fazendinha em Casa e um dos fundadores do Órbi Conecta, finalizou o debate com um convite à plateia. “Tudo o que vocês plantarem vocês vão colher. Então, invistam no ecossistema, plantem na vida das pessoas porque vai voltar pra você”, afirmou.

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