De cerveja a viagens, confira o que está mais caro para o brasileiro neste Natal

Por Amelia sperb

Manter as tradições de ceia, enfeites e presentes no Natal tem um custo e pode sobrecarregar o orçamento das famílias brasileiras na reta final do ano. Em 2022, o cenário se repete e, em alguns segmentos, é mais agravado que o habitual devido ao avanço da inflação no Brasil. Carnes, cerveja, panetones, frutas e itens que lideram a lista de troca de lembranças no período natalino estão com preços em alta.

Pesquisa divulgada pelo site Mercado Mineiro em 5 de dezembro indicou que uma cesta com um peru mais barato e um panetone de fabricação própria de supermercado ou padaria, por exemplo, chega a ficar quase 32% mais cara em comparação a 2021. O peru de um quilo de uma grande marca ficou praticamente 30% mais caro, saltando de uma média de R$ 23,12 para R$ 29,99. Por outro lado, o preço do pernil, opção tradicionalmente mais barata, caiu aproximadamente 11%.

Para o gerente de pesquisas do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eduardo Antunes, a tendência de alta se confirma para além dos itens tradicionais do Natal e acompanha o aumento da cesta básica, que finalizou novembro ao custo de R$ 710 em Belo Horizonte. O motivo, atesta, é o crescimento no consumo, movimento já natural no final do ano. “A tendência indica uma elevação contínua da cesta até o final do ano e começo do ano que vem. Dizer em qual patamar é difícil. Mas a tendência é de alta, que já vem ocorrendo durante os últimos três meses”, detalha.

Diante do cenário de encarecimento de praticamente todos os produtos, a coordenadora institucional do Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais (MDC/MG), Solange Medeiros, sugere que é hora de reinventar a data quando o bolso aperta. “Tem que fazer uma ginástica do consumo. Tem muito de emocional no Natal. As pessoas acham que têm que presentear todo mundo, mas tem que ser só o que pode. Todos os anos, o que orientamos muito é abrir mão das tradições e criar novas. Se uma carne está cara, tem que usar outra”, diz.

Para guiar suas compras, confira como está o comportamento de preço de alguns dos itens tradicionais do final do ano:

Cerveja está até R$ 0,20 mais cara
No impulso também da alta de consumo ocasionada pela Copa do Mundo, o preço da cerveja aumentou nos supermercados em torno de R$ 0,10 a R$ 0,20 nas últimas semanas. O Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral de Minas Gerais (Sindbebidas-MG) informou que o crescimento está relacionado a uma recente alta de 5% no custo de produção.

Presentes: setor de roupas tem inflação de 16,24% no ano
Vai ter presente, sim! Nove em cada dez belo-horizontinos dizem que irão presentar no Natal, segundo pesquisa da a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH). Mas, para bancar o Papai Noel neste ano, a conta será salgada e, segundo um levantamento da entidade, os preços altos são a principal barreira para as compras de fim de ano.

O setor de roupas, por exemplo, que é líder na preferência dos consumidores, de acordo com o levantamento, acumulou uma inflação de 16,24% no ano. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a outubro de 2022. Confira o ranking da escolha de presentes apurado pela CDL/BH:

brinquedos (escolha de 42,3% dos consumidores em BH)
acessórios (28,8%)
calçados (22,8%)
cosméticos (19,6%)
Os brinquedos para a garotada também ficaram mais caros. A inflação foi de 13,98%. Já os calçados e acessórios, alcançaram 14,39% de aumento no ano. Na lista de intenções de compras, os cosméticos são os que vão impactar ligeiramente menos no bolso do consumidor, com alta de 9,65% no ano. Com tantos aumentos, o gasto médio do belo-horizontino com cada presente aumentou 12% em comparação a 2021 e chegou a R$ 123 em 2022, conforme levantou a CDL/BH.

Passagens aéreas estão 40% mais caras
As passagens aéreas chegaram à reta final do ano 40,53% mais caras, cerca de seis vezes acima da inflação geral, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que consideram outubro de 2022. Um dos impulsionadores da alta, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), são os sucessivos aumentos do querosene de aviação (QAV) anunciados pela Petrobras. Até o dia 1º de dezembro, a alta acumulada no ano chegava a quase 50%.

Ao mesmo tempo, o valor da hospedagem subiu 22,39%, no acumulado de 12 meses até outubro. Fora os aumentos ao longo dos últimos meses, o preço das viagens pode dobrar na reta final do ano e em janeiro. Pacotes de sete dias em resorts no Nordeste do país chegam ao patamar de R$ 40 mil para o casal.

“É necessário pensar menos com emoção, colocar tudo na ponta do lápis e, se for uma questão de preço, ponderar cada atividade, cada passeio e priorizar o que acha realmente importante. Você pode ir para um local maravilhoso e ficar em um hotel bacana, ou em um nem tão bacana e mais barato, mas o local ainda será maravilhoso. Se você fica em um quarto com uma vista não tão boa, pode ser mais barato”, pontua o vice-presidente financeiro da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), Frederico Levy.

Já o combustível deu um alívio ao bolso de quem deseja viajar de carro. O preço médio da gasolina em Minas, que, no início de dezembro de 2021, era R$ 6,98, caiu 29,5% em um ano e chegou a R$ 4,92, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Há margem para mais quedas, após a Petrobras anunciar, na última semana, um corte de 6% no preço do combustível às distribuidoras — na prática, avaliam consultorias do mercado, isso significa diminuição de cerca de R$ 0,15 na bomba dos postos.

Salões de beleza mantêm os preços para não perder cliente
Fim de ano e os convites para eventos pipocam na tela do WhatsApp. É a formatura do sobrinho, festa da firma, amigo oculto das amigas, Natal da família, churrasco da turma da pelada… Para fazer bonito em tantos eventos, homens e mulheres acabam aquecendo o setor de beleza neste período. No Socila, franquia de salão de beleza que tem pacotes como carro-chefe, a demanda por serviços avulsos, como manicure e pedicure, escova, corte e sobrancelha cresce bastante no fim de ano. “O atendimento tende a aumentar até 35% em dezembro”, explica Fernando Bernini, de 39 anos, diretor de Operações da empresa.

Neste ano, os pacotes sofreram uma média de reajuste de 13%, devido à inflação, mas os serviços avulsos não tiveram alteração nos preços. O pacote que mais encareceu foi o “Melhor idade”, que oferece sessões de retoque de raiz, além de tratamentos capilares e escovas. Ele sai atualmente por R$ 260. Bernini explica que os produtos utilizados no salão são importados e sofreram “reajustes gigantescos”. “Esmaltes aumentaram muito de preço. Muitos ativos utilizados na fabricação sumiram no mercado”, ressalta.

Manter os clientes é, agora, a prioridade do setor. Segundo o Sindbeleza-MG, sindicato que reúne institutos de beleza e profissionais da área, clientes que frequentavam os salões até quatro vezes por semana reduziram a frequência pela metade. “Esse ano estamos tentando manter ainda os preços de 2021 porque sabemos que os clientes também estão com dificuldade muito grande no lado financeiro”, explica José Laerce Pereira, presidente do sindicato,

De acordo com Pereira, para “segurar” os preços, os profissionais da área reduziram a margem de lucro na faixa de 8%. Os salões estão optando em resgatar a clientela. “É o mais importante, porque tivemos queda grande na arrecadação por falta de clientes nos salões nos últimos anos”, afirma.

Ceia: carnes de primeira estão mais caras
Se depender dos preços, o peru pode perder o reinado na ceia de Natal para os cortes de porco. O consumo médio de carne suína passou de 16,9 kg para mais de 18 kg por pessoa no Brasil, em comparação com o ano passado, de acordo com o IBGE. A tendência é fortalecida pela alta dos preços de outras proteínas, como as carnes de boi, o frango e o ovo. Há ainda uma perspectiva de queda de 3% nos preços dos cortes suínos. Também ajuda que, na cultura popular, o porco é associado à prosperidade.

O presidente da Associação de Frigoríficos de Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal (Afrig), Silvio Silveira, reconhece que carnes “de primeira” ficam mais caras com o aquecimento da demanda. “O reajuste é pouco na picanha e alcatra. Mas a carne ‘de segunda’, como acém e maçã de peito, baixou”, pontua.

No Ano-Novo, algumas pessoas evitam comer carne de frango, já que as galinhas ciscam para trás e poderiam atrair retrocessos, diz a superstição. De acordo com análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a opção tende a ficar mais barata no quarto trimestre, já que a demanda diminui.

A sobremesa também pesa mais no bolso neste ano. O preço médio dos panetones de fabricação própria de supermercados e padarias chegou, em 2022, a R$ 11,83, aumento de 37% em relação ao Natal passado e opções de marcas tradicionais ficam todas acima de R$ 20. Quem quer investir em frutas também paga mais caro. As altas atingem as secas, como as passas, cujo preço subiu 11%, e especialmente as frescas. O quilo da maçã Fuji quase dobrou e chegou ao patamar de R$ 14, segundo pesquisa do Mercado Mineiro. 

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