Corrida pela IA provoca nova divisão no mundo: os que têm acesso à tecnologia e os que não têm

Por Roman Lebedev

O avanço da inteligência artificial está transformando profundamente a estrutura da economia mundial, mas também escancarando uma divisão preocupante entre países com acesso à tecnologia e aqueles que ainda não conseguem acompanhar esse ritmo. A corrida pela inovação está sendo liderada por grandes potências, que investem bilhões para dominar algoritmos, dados e infraestrutura, enquanto outras regiões permanecem limitadas pela falta de recursos, políticas públicas e capital humano qualificado. Essa desigualdade pode comprometer o equilíbrio global nas próximas décadas.

À medida que ferramentas cada vez mais sofisticadas são integradas a setores como saúde, transporte, energia e defesa, cresce o abismo entre nações desenvolvidas e aquelas que ainda tentam suprir necessidades básicas de digitalização. O domínio dessas tecnologias já não se resume a uma vantagem competitiva no mercado, mas passa a definir o nível de soberania, segurança e influência que um país pode exercer. Os que dominam a inteligência artificial têm o poder de ditar tendências e impor padrões globais.

Esse cenário não se restringe apenas à disputa entre governos, pois também envolve empresas multinacionais que acumulam gigantescos bancos de dados e capacidade computacional sem precedentes. O resultado é a centralização do poder tecnológico em um pequeno grupo de atores, o que limita a diversidade de aplicações, restringe o acesso à inovação e alimenta a exclusão de milhões de pessoas ao redor do planeta. O ciclo de concentração tende a se repetir enquanto não houver políticas efetivas de inclusão digital e tecnológica.

As disparidades se refletem inclusive na formação de profissionais e centros de pesquisa. Em países com investimentos constantes na área, há ecossistemas estruturados para o desenvolvimento científico e tecnológico, com incentivos públicos, universidades conectadas ao setor produtivo e liberdade para experimentação. Em contraste, outras regiões enfrentam dificuldades crônicas para financiar projetos, adquirir equipamentos e atrair talentos, o que compromete a capacidade de inovação local e a geração de soluções adaptadas à realidade social.

A velocidade com que essa transformação acontece torna ainda mais urgente a construção de estratégias que reduzam os impactos dessa divisão. Países em desenvolvimento precisam buscar alianças, promover a cooperação internacional e adotar políticas que priorizem a educação tecnológica desde os primeiros níveis de ensino. Sem essas medidas, a dependência tecnológica tende a aumentar, tornando mais difícil competir ou mesmo sobreviver em uma economia global cada vez mais baseada em dados e automação.

O risco de um mundo ainda mais fragmentado e desigual é real. Enquanto alguns países avançam rapidamente na automação de serviços públicos e privados, outros lidam com sistemas ultrapassados e sem integração digital. Isso compromete não apenas a eficiência das instituições, mas também os direitos dos cidadãos, que perdem acesso a benefícios oferecidos por soluções inteligentes e ficam à margem das inovações que moldam o futuro do trabalho e das cidades.

A concentração de poder tecnológico também pode gerar instabilidades geopolíticas. A ausência de uma regulação global clara, somada à corrida por supremacia digital, aumenta o risco de conflitos cibernéticos e manipulações em escala internacional. É fundamental que o desenvolvimento dessas ferramentas seja acompanhado por um debate ético profundo, que envolva diferentes culturas, setores e perspectivas, garantindo um futuro mais equilibrado, seguro e justo.

Em meio a esse cenário, é cada vez mais evidente que o progresso tecnológico, embora necessário, precisa caminhar lado a lado com o compromisso com a inclusão. As ferramentas baseadas em inteligência artificial têm potencial para resolver problemas históricos da humanidade, mas, sem acesso equitativo, acabarão por reforçar velhas estruturas de poder. O desafio não está apenas em inovar, mas em garantir que todos possam participar dessa transformação.

Autor : Roman Lebedev  

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