Janeiro vai cobrar Bolsonaro e Guedes

Por Amelia sperb

A vitória é uma péssima conselheira. Jair Bolsonaro saiu surpreendentemente maior do que entrou na crise da pandemia de coronavírus. Ele hoje é mais popular, tem uma base mais sólida no Congresso e a economia brasileira fechará 2020 menos esfrangalhada do que se estimava em março e abril, quando se falava em até 10% de queda no PIB. O problema é que Bolsonaro não entendeu os motivos da sua vitória.

Bolsonaro age como se a sua popularidade fosse decorrência da postura a favor da volta do trabalho normal e contra as quarentenas de combate ao coronavírus. Não. É só dinheiro.

A popularidade de Bolsonaro cresceu e a economia não afundou porque o governo jogou R$ 321 bilhões no programa de Auxílio Emergencial que ajudou na sobrevivência de 66 milhões de brasileiros. Nunca tanto dinheiro chegou a tanta gente em tão pouco tempo. Isso é um programa comparável aos feitos na Europa.

Só que o déficit público deste ano foi para quase R$ 900 bilhões e não há condições para manter um programa que, mesmo na sua versão mais barata, custa R$ 25 bilhões ao mês. O Auxílio Emergencial termina em dezembro e, até agora, o governo não tem ideia do que fazer a partir de janeiro.

Para entender a gravidade do impasse sobre janeiro de 2021 compare esses quadros:

Bolsa Família
– Atendidos: 42 milhões
– Valor pago: R$ 190 (em média)
– Orçamento original em 2020: R$ 32 bilhões

Auxílio emergencial
– Atendidos: 67,2 milhões de pessoas (até agosto)
– Valor pago: R$ 600 de abril a agosto e R$ 300 de setembro a dezembro
– Orçamento em 2020: R$ 321,8 bilhões

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A alternativa em debate interno hoje é a seguinte:

Programa Renda Cidadã (ou o nome que darão para o Bolsa Bolsonaro)
– Atendidos: 52 milhões
– Valor: entre R$ 240 e R$ 270
– Orçamento: entre R$ 50 bilhões a R$ 55 bilhões

Não há dinheiro para o Renda Cidadã ou qualquer outro nome que se batize o programa bolsonarista, mas atente para um dado. Mesmo nessa hipótese otimista, o número de beneficiados cairia de 67 milhões para 52 milhões. Seriam, no mínimo, 15 milhões de pessoas sem ter nenhuma renda a partir de janeiro.

Parte do governo – os generais e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, à frente – querem que o Auxílio Emergencial fique fora da Lei de Teto de Gastos, assim como parte do orçamento para algumas obras de infraestrutura. Por esse raciocínio, se criaria uma brecha de R$ 60 bilhões a R$ 70 bilhões no Orçamento de 2021, ampliando o déficit que está previsto para a casa dos R$ 250 bilhões. A reação do mercado aos rumores de uma explosão do teto tem sido de pânico.

Há uma montanha de experiências passadas para indicar que a popularidade de Bolsonaro deve cair nos próximos meses. Primeiro, gradativamente a partir da redução do valor do auxílio. Depois, com força, com o fim do programa. O fato de a oposição ter ao longo da campanha eleitoral acesso à TV aberta dá combustível às críticas ao presidente, sem que ele tenha na maioria das cidades alguém que o defenda.

Na sexta-feira (16/10), o IBGE divulgou que pela primeira vez o número de desempregados no Brasil ultrapassou os 14 milhões. Todos os analistas consideram este dado subestimado por dois fatores: o Auxílio Emergencial e o programa de desconto de salário para trabalhadores em troca da manutenção do emprego. Quando termina o programa de desconto? Você acertou. Janeiro.

Esses impasses todos estão postos desde agosto. Uma hora janeiro chega.

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